Usada do mês – Honda CBR 929 RR – De confiança

A família Fireblade da Honda faz sonhar apaixonados pelas motos super-desportivas desde 1992. A versão destas páginas, uma CBR 929 RR de 2001 faz parte da 5ª geração da RR, e apesar de não ser um dos modelos mais exclusivos ou cobiçados, conta com uma grande legião de adeptos, até porque, aos dias de hoje, continua a ser uma moto belíssima e cheia de requinte. Na verdade, uma verdadeira “Milf”!

TEXTO: Fernando Neto / FOTOS: Bruno Ribeiro

Para esta rúbrica na Motociclismo pretendemos realizar alguns quilómetros com motos interessantes que estejam ainda perfeitamente atuais, ou nem tanto, seja qual for osegmento. Ao fim e ao cabo pretendemos perceber como certos modelos envelheceram,mas se possível que estejam num estado ainda relativamente original.E já agora fica lançado o repto aos nossos leitores: caso tenham uma moto interessante na garagem, já com uns bons anos mas bem estimada e merecedora de ser fotografada para as páginas desta vossa revista, enviem-nos um e-mail com uma foto da mesma e pode ser que seja escolhida!

Quinta geração

Para falar desta CBR 929RR temos de recuar até 1992, quando tudo começou e é lançada a primeira geração da CBR 900RR. Uma moto criada a partir de um modelo desenvolvido para rivalizar com a própria RVF 750 (RC 45) da Honda nas 8 horas de Suzuka. Como tal, a marca da Asa Dourada aumentou o curso do seu motor tetracilíndrico em linha, manteve um baixo peso a seco de apenas 185 kg e uma curta distância entre eixos de 1.405 mm.Com uma boaciclística e fácil de controlar, a Honda inaugurava uma nova era de super-desportivas em que, mais do que a potência pura, contava essencialmente a maneabilidade e o controlo.Numa altura em que as motos desportivas, de todas as marcas, vendiam como pãezinhos quentes, não tardou a ser lançada a segunda geração, em 1994, e dois anos depois surge um novo modelo, com um quadro mais leve e rígido, depósito e carenagens melhoradas e coma cilindrada a subir até aos 918 cc para uma potência de 129,1cv. Para a quarta geração em 1998, 80% dos componentes foram redesenhados, fazendo baixar o peso para os 180 kg,enquanto a ciclística foi melhorada com um novo braço-oscilante e o motor passou a debitar 131,8 cv devido a novas afinações. E chegamos à moto destas páginas, um modelo lançado em 2000 e totalmente redesenhado. Pela primeira vez a Fireblade recebeu injeção de combustível e a cilindrada subiu para os 929 cc, para um novo máximo de potência de 149,5 cv. O quadro também era novo, e com os pontos de pivot do braço-oscilante fixos por uma chapa independente em U, foi otimizada a flexibilidade do quadro, conferindo tanto uma estabilidade superior como uma maneabilidade ainda melhor. O peso desceu para os 170 kg, 15 kg mais leve a primeira 900RR de 1992, contribuindo para isso a introdução de titânio no coletor de escape e numa parte do silenciador.

Após este modelo a Fireblade voltou a ser remodelada por inúmeras vezes até chegarmos à14ª geração, a da atual CBR 1000RR-R nas suas várias versões, uma autêntica Superbike com luzes e matrícula, repleta de argumentos a nível de motor, ciclística e eletrónica, mas também a mais radical de todas as gerações até hoje!

A nossa 929

A moto destas páginas é então uma 929 de 2001, um modelo ainda muito atraente na atualidade e que foi bastante vendido na época, nas várias decorações. No caso específicodeste modelo, o seu proprietário é o terceiro dono e esta 929 conta atualmente com cercade 27.700 km, o que dá pouco mais de 1.000 km por ano! Com a maioria dos quilómetrosrealizados em estrada mas também já com alguns track-days realizados, esta CBR conta comligeiras alterações, como é o caso de montar uma ponteira de escape Akrapovic (nem muitobarulhenta por sinal), proteções de motor e “cogumelos”, outros piscas, um ecrã maiselevado e escuro e outros pneus naturalmente, neste caso uns bem aderentes DiabloSupercorsa da Pirelli. Além disso, e sendo uma unidade de injeção, já havia recebido ligeiras melhorias nesse capítulo para um melhor funcionamento em pista.

Old School

Não fomos para a pista com ela (se o fizéssemos o atual dono iria assistir armado), mas fizemos alguns quilómetros com a 929 e percebemos como continua bem agradável de conduzir, Bastante pequena, oferece uma boa sensação de leveza e a posição de condução é naturalmente desportiva, mas sem o ser demasiado, simplesmente o assento é demasiado escorregadio. E sinceramente, tem algo que nos agrada bastante e do qual temos saudades:o inserir a chave na ignição, carregar no botão de arranque e simplesmente arrancar,aproveitando os bons baixos e médios regimes do modelo. Aqui não temos de nospreocupar com modos de condução, ajustes de ABS (que não existe), quickshifter, controlode tração, ajustes de suspensões eletrónicas ou uma instrumentação TFT que exija umaleitura prévia do manual do utilizador. É claro que tudo o que existe hoje em dia é ótimo e funciona muito bem, mas soube bem voltarmos a olhar para uma instrumentação com o grande taquímetro analógico e a velocidade instantânea em destaque, e pouco mais! O tato de acelerador, da embraiagem e da caixa de velocidades continua a agradar e a travagem,mesmo estando longe dos padrões atuais, agrada numa utilização estradista e não chegou a revelar cansaço. Quanto às suspensões, em ritmo tranquilo pareceram estar ainda impecáveis, fazendo um curso normal nos dois eixos, mas em ritmo mais veloz especialmente com passageiro revelaram já algumas reações que denotam o passar dos anos, levando a um ligeiro alargar de trajetória, a que não está desassociado algum desgaste dos pneus que já haviam rodado em pista. A subida de regime é rápida e agradável, apenas dos médios regimes para cima o tato de acelerador pareceu algo brusco,possivelmente devido à afinação da injeção, notando-se também os atritos internos do motor tetracilíndrico, diferente de qualquer motor atual em que a subida de regime é “mais limpa”. Por falar em limpeza, com o motor em funcionamento é claro que também existe sempre aquele cheiro a gasolina no ar, algo que com os modelos Euro 4 eEuro 5praticamente deixou de acontecer.No global, esta 929 RR é uma moto que, bem mantida continua bem atual e agradável de conduzir, merecedora de muita estrada ou pista para rodar em vez de ficar guardada debaixo de uma capa na garagem. Se for preciso, chamem-me que eu irei novamente até ao Cabo da Roca ver se tudo continua a funcionar perfeitamente!