Desde bem jovem que Ivo Lopes dá nas vistas nas corridas de velocidade, em Portugal além fronteiras. Possuidor de um talento natural enorme, o piloto natural da Amadora,agora com 25 anos, é o atual campeão espanhol de Superbike. E como apenas o talento não chega, é também um grande atleta, pelo que se não o encontrarem no ginásio ou a treinar motocross, o mais provável é que esteja a treinar com a sua adorada bicicleta de estrada.

TEXTO: fernando neto / FOTOS: RUI JORGE
Sendo um pouco mais jovem que Miguel Oliveira, Ivo Lopes está incluído naquela “fornada”de grandes pilotos que nasceram nos anos ’90. Passou pelos troféus de MiniGP no nosso país, sempre com o ex-piloto João Pinto a seu lado, fez alguns troféus em Espanha e foi um dos que mais deu nas vistas no Troféu Red Bull Rookies Cup. Depois voltou aos campeonatos nacionais, onde brilhou já com motos de 600 cc e 1000 cc, sagrando-se campeão por diversas vezes, além de ter obtido o título europeu de STK 600 (2016), e os títulos espanhóis de Open 1000 (2020) e Superbike (2021). Este último assume uma importância enorme, pois o ESBK é um dos campeonatos mais fortes e reconhecidos a nível mundial, tendo Ivo vencido na frente de diversos pilotos que já estiveram no Mundial de Superbike. Ivo Lopes é hoje em dia um piloto super profissional mas continua o mesmo“castiço” e bem disposto de sempre. O nosso ponto de encontro foi no Centro de Alto Rendimento no Jamor, mas com a sessão de fotos agendada para o Guincho, Ivo ainda teve de pedalar um bocado (ida e volta), o que para ele não é um grande problema.

Motociclismo -Ivo, como é atualmente o teu dia a dia em termos de treinos e como tem sido a tua preparação para este início de época?
Ivo Lopes – Eu tenho treinos diferentes ao longo da semana. Segundas, quartas e sextas são dias de ginásio, portanto faço bicicleta de manhã e ginásio à tarde. Às terças e quintas normalmente faço séries de bicicleta e à tarde faço moto, seja motocross ou pista do kartódromo. Aos sábados normalmente faço horas de bicicleta e depois domingo costuma ser o dia de descanso, embora ultimamente nem tem sido de muito descanso (risos), então faço bicicleta e moto de MX.
Motociclismo – Falaste em treino no kartódromo. Utilizas uma supermoto para tal?
Ivo Lopes – Sim, tenho uma 300 da BMW que preparámos para utilizar no treino. Não é bem específica mas dá para treinar, é porreiro, e assim posso usar uma moto da própria marca.
Motociclismo – Qual é o treino que te dá mais gozo fazer? Imagino que o de moto?
Ivo Lopes – Sinceramente, o treino que mais gozo me dá fazer é o de bicicleta. Ganhei uma paixão pela bicicleta e este ano até vou fazer alguns Granfondo, por isso sempre que posso vou andar de bicicleta e até retiro a parte de moto, o que é um bocado parvo da minha parte, mas é a paixão que eu ganhei pela bicicleta.

Motociclismo – É unânime por parte de toda a gente que nos últimos anos tens estado super focado na competição. Quando é que sentiste que estava na altura de dares tudo, até ao capítulo do treino, para agarrares uma boa oportunidade e ires longe na velocidade?
Ivo Lopes – Penso que foi desde o início do projeto com a BMW. Nessa altura, a meio do ano, a BMW mudou de diretor com a passagem para o Rogério Mota para Country Manager, e o Rogério ajudou-nos bastante. Conseguiu também levar-nos para Espanha e então a partir daí eu vi que era possível, também com a ajuda da equipa naturalmente, e vi que tinha caminho. Comecei a focar-me ainda mais, a acreditar em mim, e depois de andar a lutar com o Jordi, com o Carmelo e com essa malta toda, e conseguir ser rápido com eles,acho que isso quis dizer algo, pois eu não tinha muita experiência com motos de 1000cc noutros campeonatos, apenas um ano em Portugal. Vi que era possível, tentei dedicar-me ao máximo, deu resultado e agora acho que ainda me dedico mais pois as portas estão a abrir-se e acredito que seja possível chegar ao mundial.
Motociclismo – Como foi o decorrer da temporada passada em que foste campeão em Espanha? Desde o início percebeste que conseguias andar com eles ou corrida a corrida foste ganhando mais confiança?
Ivo Lopes – O ano passado tem uma história engraçada. Eu era para ter o Max Sheib com o colega de equipa, um piloto chileno que já foi campeão em Espanha e já faz o mundial, um piloto muito rápido, mas entretanto houve uma pequena confusão com a equipa e passei para piloto principal. Depois os teste correram muito bem, em Albacete bati o recorde da pista, não oficial mas fui muito rápido, nos testes oficiais em Jerez fui rápido também, e na qualificação para a primeira corrida consegui bater o Torres e o Granado e bati o recorde de pista que era do Sheib com a Kawasaki. Desde aí traçámos um plano, o que às vezes pode nem dar certo, pois sabíamos que o Torres ia faltar a uma corrida e são 50 pontos, mas a partir daí fui ganhando experiência e acho que foi importante irmos a Navarra duas vezes,pois fui bastante rápido lá, onde ganhei e fiz dois pódios. No final estávamos um bocado apertados mas o Jordi caiu e deixou-me mais desafogado.

Motociclismo – Existe alguma pista em Espanha que te favoreça um pouco mais ou que tu gostes particularmente?
Ivo Lopes – A pista que me favoreceu o ano passado foi Aragon. Fui bastante rápido, fiz segundo na qualificação e fiz segundo na corrida de sábado à chuva. Depois no warm-up com pneus usados, não sei bem porquê mas fui mais rápido 1 segundo do que qualificação,e na corrida liderei da primeira à última volta. Por isso acho que a pista favoreceu-me, mas em Navarra consegui ganhar ao Torres, Valência correu-me bastante bem, e a única pista que não me correu assim tão bem foi a de Barcelona Catalunha, pois tive um problema na perna com um pelo encravado que me abriu um buraco, e nem conseguia andar a pé. Aí perdi alguns pontos para o Torres, mas no geral gosto de todas as pistas.
Motociclismo – Falaste no Mundial de Superbike. Essa possível entrada está muito dependente de como te vai correr esta época em termos de resultados ou existem muitos mais fatores que poderão complicar a tua ida para o mundial?
Ivo Lopes – Acho que sim, vai depender um bocado dos resultados e vamos ter também um piloto forte na equipa que vem da BMW Alemanha, o ucraniano Ilya Mikhalchik. Mas acho que vai depender dos resultados e também um pouco daquilo do que os pilotos do mundial façam, pois se tudo correr bem no mundial não irão retirar uma peça para colocarem um igual. Mas se os resultados deles não forem os esperados pode ser que possamos entrar numa equipa satélite, conforme os nossos resultados em Espanha.

CAIXA
BRUNO JORGE – O PREPARADOR FÍSICO
Motociclismo – Bruno, já conheces o Ivo há muitos anos. Como é que é trabalhar com ele e que adaptações tiveram de fazer quando ele entrou no super competitivo campeonato espanhol?
Bruno Jorge – Trabalhar com o Ivo é excelente. Nesta fase ele é um piloto altamente profissional, muito dedicado e com vontade de chegar a um patamar mais elevado. Quanto à segunda parte da tua pergunta, é claro que temos sempre de adaptar algo. Qualquer estrutura que seja diferente, qualquer tipo de corrida em que haja diferenças, há que adaptar o piloto à moto e às características da competição, há sempre algo a fazer.
Motociclismo – O treino com moto de motocross que ele entretanto adicionou, assim como o treino com bicicleta de estrada, não são tanto da tua área, mas consideras que são complementos muito importantes?

Bruno Jorge – São complementos essenciais. A capacidade aeróbia dele é importantíssima,porque ele, antes de treinar as componentes técnicas tem de conseguir fazer uma corrida do princípio ao fim. E aguentá-la, fisicamente estando bem e cognitivamente também,portanto ele tem que ter uma capacidade de resposta na última volta semelhante à que ele tem na primeira, e isto mesmo a nível de decisão consciente. Por isso são treinos fundamentais.
Motociclismo – Quais são os pontos fortes do Ivo enquanto atleta?Bruno Jorge – Fisicamente, como é fácil de ver, é um atleta que tem muita força. A parte cardio respiratória sempre foi, digamos, o calcanhar de aquiles, mas nos últimos dois anos,também por causa da força de vontade dele, conseguimos colmatar essa situação, e com a junção destes treinos de bicicleta e de corrida chegámos a um patamar em que na minha opinião ele é já um atleta bastante completo.