Ciente da importância atual do segmento trail, a norte-americana Zero – com uma gama 100% composta por modelos elétricos – lançou a sua primeira grande moto de aventura. Um Projeto que teve início em 2018, muito importante para a marca, e que segundo os próprios, pretende dar a volta a muitas mentalidades mais conservadoras. Fomos à Sicília, para as estradas e caminhos em redor do Etna, conhecer a DSR/X.

TEXTO:FERNANDO NETO/ FOTOS:ZERO
Com vários jornalistas estrangeiros achegarem a Catânia sem as malas,os responsáveis da Zero já me diziam”devíamos ter feito esta apresentação em Portugal, no Algarve”,enquanto eu acenava com a cabeça e pensava que desta vez havia sido um privilegiado por não ter tido problemas com a bagagem. De qualquer forma, é uma fantástica experiência poder andar de moto em redor do mais alto vulcão da Europa, ainda para mais permanentemente ativo, e que a qualquer momento pode “cuspir” não apenas cinzas como também lava. A paisagem é brutal,e aos comandos de uma moto elétrica a experiência é ainda mais única. Mas vamos ao que interessa.
A MAIS IMPORTANTE
A Zero fez um enorme segredo com esta DSR/X, pelo que nenhum jornalista havia visto fotos do modelo até à chegada ao hotel. Disseram-nos apenas que tipo de equipamento levar, pelo que entendemos logo que seria uma trail, um novo e importante passo para a empresa californiana. O projeto começou em 2018, com o lançamento posterior de alguns modelo como a SR/F que já testámos aqui na Motociclismo(edição de junho), mas desde aí – tal como os responsáveis da marca confessaram – o mundo mudou muito! A pandemia de Covid 19 fez o planeta parar demasiado tempo, a marca foi também afetada por problemas de fornecimento de componentes; mas por outro lado, a eletrificação tem decorrido mais rápido do que seria esperado, principalmente no mundo automóvel. Amados por muitos e odiados por outros, os veículos elétricos estão aí, e da minha parte, tentarei sempre explicar tudo da forma mais isenta, dando conta das vantagens e desvantagens desta solução.Quanto à DSR/X, é sem dúvida a moto mais importante para a Zero até hoje, modelo que vem tentar “fazer estragos” num segmento trail que tem dominado as vendas de motos um pouco por todo o mundo nos últimos anos.
CARACTERÍSTICAS

Com uma estética relativamente simples mas agradável (a versão verde e preta, com jantes de raios e pneus de TT é muito interessante), a DSR/X não é muito encorpada.Apesar dos responsáveis da Zero terem falado sempre bastante dos possuidores de BMW R 1250 GS (modelo também forte nas vendas nos EUA), esta moto parece-nos mais enquadrada em termos de dimensões e ciclística entre as trail de média cilindrada, com linhas agradáveis e uma boa qualidade de construção que no entanto não nos parece referencial tendo em conta o preço final do conjunto.Vem equipada com o motor Z-Force 75-10X, que conhecíamos da naked, mas melhorado e capaz agora de produzir 225 Nm de binário, o que é impressionante enquanto a potência máxima é de 100 cv às 3.650 rpm. Uma moto com uma velocidade máxima limitada aos 180 km/h e que apresenta um peso em ordem de marcha de 247 kg. Em termos de ciclística, apresenta um quadro tubular em aço redesenhado para oferecer uma maior altura ao solo, e as suspensões, totalmente reguláveis, oferecem 190 mm de curso nos dois eixos. Na verdade, as origens da marca estão ligadas ao TT, com o primeiro modelo lançado aser de off-road.Outros destaques prendem-se com um avançado sistema operativo, o Cypher III+, pelo que esta é a primeira moto elétrica que beneficia de diversos sistemas de estabilidade da Bosch, com capacidades específicas para off-road, para uma maior estabilidade e tração, em qualquer superfície. O sistema inclui travagem combinada, bloqueio da travagem para arranque em subida e o Park Mode, um sistema de marcha-atrás em velocidade muito reduzida para ajuda nas manobras em locais mais complicados. A DSR/X vem equipada com dois níveis rápidos de carregamento de baterias, pelo que o mesmo pode ser feito (até aos 95%) em 2h ou 10h, mas num posto ultra rápido o carregamento poderá levar apenas 1h. Com as baterias carregadas a autonomia irá depender muito do estilo de condução e dos modos utilizados,como sempre acontece com os veículos elétricos. Segundo a marca, poderá variar entre os 290 km em cidade, os 137 km em autoestrada e os 185 km em regime combinado. Nós que fizemos 93 km em estrada(de forma rapidinha) com alguns km em TT pelo meio, e ainda nos sobrou 62% de bateria, parece-nos que os números avançados são bastante reais. Já agora, em termos de custos, cada carregamento completo poderá significar algo como 3,56 €, mas este é um valor médio que pode variar de país para país. Ou seja, segundo a Zero, falamos de algo equivalente a 0,59 l/100 km em cidade ou 1,25 l/100 km em auto estrada. Tentador.Este modelo é ainda compatível com a appda marca, através da qual se podem gerir os modos de condução, aceleração, travagem, regeneração das baterias, etc, e como Módulo de Conetividade Celular (CCM)são enviadas para a app diversas notificações que tenham a ver com o desempenho da moto. À DSR/X podem ser adicionados diversos acessórios que irão beneficiar o conforto através de outros assentos ou para-brisas, e a capacidade de bagagem através da montagem de malas laterais e top-case. As rodas de raios com pneus mais de acordo com a filosofia TT estarão também entre os acessórios mais requisitados.
EM ESTRADA
Nas manobras à mão sente-se um pouco do peso do conjunto, enquanto a posição é agradável mas poderão ter de escolher um assento de acordo com as vossas preferências, visto o guiador ser bastante elevado, além de largo. Recebemos um briefing junto às motos, com as notas básicas sobre a condução e arrancámos. Um dia inédito para mim, pois em 2022 cumpri 20 anos de jornalismo nas duas rodas e ainda não tinha estado numa apresentação internacional de uma moto elétrica! Falta o som, de facto, o que estranhamos ao início, mas a baixa velocidade até se ouvem alguns ruídos provenientes da transmissão, juntamente com algumas vibrações, o que não nos pareceu muito agradável. Mas só até aos 30 km/h, sensivelmente. E também ouvimos por vezes um ligeiro “clonk”proveniente das mesas de direção nas manobras, que os técnicos da marca reconheceram existir em algumas unidades “virgens “ e que pode ser facilmente corrigido. Depois, em estrada aberta, as sensações são muito positivas! A aceleração é forte,tal como as recuperações, mas acima de tudo a agilidade é melhor do que esperamos, tendo em conta que já conhecíamos a SR/F. A moto muda de trajetória de forma fácil, não existem problemas quando apanhamos ressaltos ou quando temos de ajustar a trajetória, e apenas mudámos do modo de condução Street para o Canyon,que oferece um pouco mais de travão motor, o ideal (na nossa opinião) e o melhor compromisso para quem está mais habituado às motos a combustão. Entre os restantes modos, o Sport chega a ser demasiado agressivo (a não ser que queiram fazer corridas entre semáforos) e o Eco apresenta demasiado travão motor, sendo o ideal para usar na cidade, por forma a ir regenerando as baterias, existindo ainda um modo Rain que nem chegámos a usar.Gostámos da proteção aerodinâmica, da presença de marcha-atrás e da forma fácil de ajustar o pára-brisas, enquanto o falso depósito também apresenta um enorme espaço de armazenamento (desde que não tenhamos aí os cabos de carregamento), e nas laterais do “depósito” também podemos guardar mais qualquer coisas, mas aí somente através de ferramenta. O sistema Vehicle Hold funciona bem quando precisamos de estar parados numa qualquer inclinação, mas mais uma vez falta um sistema de parque para que a DSR/X possa ficar estacionada em segurança em locais mais íngremes (bastava inspirarem-se no travão de parque que a Honda possui nos seus modelos com DCT).
FORA DE ESTRADA

Esta Zero vem equipada com roda dianteira de 19” e pode receber pneus mais TT que os Scorpion Trail II da Pirelli, mas assim nesta forma original já é possível fazer caminhos fora da estrada sem grande problema, além de não incomodar em termos sonoros e de CO2 a fauna e a flora. Também aqui preferimos usar o modo Canyon mas na versão fora de estrada, ou seja, desligando parcialmente o controlo de tração e o sistema de travagem ABS na roda traseira. Se o ritmo apertar em off-road, aí oconjunto irá começar a de notar algumas fraquezas, na ciclística e pelo facto de não termos uma caixa de velocidades para nos ajudar a parar. Ainda assim, as suspensões Showa permitem algumas brincadeiras (a forquilha esteve sempre um pouco macia em estrada e em TT, mas é uma questão de afinação), os travões J.Juan são competentes e têm um excelente tato e a eletrónica está sempre lá para o que for necessário.
ZERO DSR/X | |
MOTOR | elétrico Z-Force 75-10X |
CILINDRADA – POTÊNCIA | 100 cv @3.650 rpm |
BINÁRIO | 225 Nm |
CAIXA | automática |
QUADRO | tubular em aço |
DEPÓSITO | 17,3 kWh |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha invertida Showaajust. de 47 mm, curso de 190 mm |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor Showaajustável, curso de 190 mm |
TRAVÃO DIANTEIRO | 2 discos de 320 mm, pinçasradiais de 4 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 265 mm, pinça de 2êmbolos |
PNEU DIANTEIRO | 120/70-19 |
PNEU TRASEIRO | 170/60-17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1.525 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 828mm |
PESO | 247 kg |
P.V.P. | 27.435€ (desde) |




