A Kawasaki, seguindo as tendências do mercado, acaba de lançar uma naked retro de média cilindrada.O sentimento nostálgico que se instalou no dias de hoje é evidente, o que leva à procura do estilo vintage que não passa de moda, mas com as vantagens que a modernidade proporciona.

TEXTO: MARGARIDA SALGADO / FOTOS: RUI JORGE–KAWASAKI
Todas as marcas ao longo dos anos mudam os nomes ou as siglas dos seus modelos, exceto a Kawasaki que mantém a gama Z desde 1976/77, quando foi lançada a primeira Z650 b1. É este primeiro modelo que serve de base à atual Z650 RS. As atualizações são óbvias e evidentes, e o que mais a distingue da plataforma original é a mudança dos quatro cilindros para os atuais dois. A este acordar do passado para o presente em vários modelos, a Kawasaki chama-lhe movimento Retrovolution.
Levantando ainda o véu, a gama Z faz 50 anos e a marca promete novos lançamentos comemorativos já em Janeiro!

Motor
A alma desta recente máquina apresenta 649 cc, numa versão atualizada do motor de dois cilindros paralelos refrigerado a água da Kawasaki, usado nos modelos Z650 e Ninja 650. A fama e os adjetivos têm sido consistentes: durabilidade e performance. Este motor vem ainda equipado com embreagem assistida e deslizante, para ser de utilização leve na manete e ajudando depois numa condução mais desportiva.
O empenho da marca foi evidente no ajuste do motor nas rotações baixas e médias. O motor debita 68cv (50,2kW) de potência e estará também disponível no nosso mercado um kit de redução de potência de 35kw para ser compatível com a carta A2.
Ciclística
Na dianteira a forquilha convencional é de ø41 mm, fazendo 125 mm de curso, enquanto na traseira encontramos um mono-amortecedor, ajustável na pré-carga e com 130 mm de curso. A posição horizontal deste confere detalhes importantes no seu comportamento. Baixa o centro de gravidade,centraliza o peso e isola-o de todas as fontes de calor, resultando numa melhor e mais eficaz leitura da roda traseira. Isto numa moto que pretende ser citadina mas igualmente eficaz e divertida numa boa estrada sinuosa.
A travagem é assegurada por pinças dianteiras de duplo êmbolo de estilo retro em discos de 300 mm,enquanto na traseira encontramos um disco de 200 mm assistido por uma pinça de um êmbolo simples,sistemas auxiliados pelo já nosso conhecido e prestigiado ABS da marca Bosch.

Apesar de montar jantes de construção típica para estrada, o aspeto é raiado para um look bem oldschool. São de 17’’ nos dois eixos e montam pneus de desenho bastante desportivo, como são os Dunlop Roadsport 2.
O quadro é do tipo tubular tipo treliça, em aço de alta resistência, de apenas 13,5kg. O seu perfil estreito e baixo ajuda na acessibilidade à maioria dos utilizadores, o que é importantíssimo num segmento como este, que junta novos encartados. Ainda assim o assento encontra-se a 820 mm do solo, mas existe uma opção de acessório de assento baixo de 800 mm. Igualmente para beneficiar a versatilidade do modelo, a posição do corpo é bastante vertical, com um guiador alto e pousa-pés bem posicionados para deslocações muito fáceis e confortáveis.
O peso é de 187 Kg em ordem de marcha, mas mais do que apresentar um peso realmente baixo, a distribuição de massas é exemplar.

Estética e cores
A decoração e formas estão baseadas na b1. Detalhes como a forma do assento, as costuras do mesmo o formato da carenagem traseira em cauda de pato reaviva as memórias dos mais esquecidos.
O aspeto da instrumentação é bem vintage, não faltando todas as informações importantes, e os três corações não desiludem, com o desenho do depósito a prestar tributo à Kawasaki. As cores estão em harmonia com tudo o resto: Metallic Spark Black, Candy esmerald green e Metallic moondust gray ebony. A Kawasaki mostra uma intenção de dar maior destaque à estética e ao lifestyle que às características técnicas. Entende-se que essa seja a evolução do mercado. No entanto não posso nunca deixar cair por terra a qualidade desta alma velha, em corpo novo.

Os acessórios são mais que muitos, e se as mulheres normalmente perdem a cabeça por sapatos, aqui temos emblemas de depósito, proteção de depósito, banco mais baixo e estreito, proteção de radiador,proteção do eixo da frente, tampa do reservatório do óleo, pegas laterais, barra traseira, tomada usb e mais alguns opcionais.

Opinião
A Kawasaki, apesar de se manter num patamar bastante discreto nos últimos anos, talvez seja das marcas mais consistentes e estruturadas no mercado no que diz respeito à qualidade do produto que apresenta. Do segmento mais caro ao mais barato, do mais utilitário ao mais desportivo, se fizermos uma lista de pontos a avaliar, esta marca é exímia. Não conheço uma Kawasaki da nova geração com travagem deficitária, difícil de manusear ou de construção pouco robusta.

Esteticamente esta RS está apetecível, e é por aí que vai buscar muitos dos clientes alvo. O espírito retrô vintage sport agarra os mais saudosistas do género, mas não só dos saudosistas vive um modelo.O primeiro contacto foi na belíssima cidade de Coimbra onde provou a sua habilidade de utilitária.Coimbra velha, irreverente no seu piso centenário pôs imediatamente à prova as suspensões e o saldo foi não só positivo no desempenho como no conforto. Pelas suas características recentes como oquadro em treliça, o peso é reduzido o que a torna extremamente ágil. É de realçar a forma fácil como se controla, não sendo necessário grandes ângulos de manobra, mesmo em velocidades reduzidas espaços apertados, mantendo um ponto de equilíbrio seguro. A altura ao solo torna-a acessível à maioria dos utilizadores, mas uma das grandes qualidades é o motor, que chegou mais redondo, cheio e a reagir com mais subtileza nas baixas rotações, não perdendo o seu carácter enérgico e rebelde.

No decorrer do dia, a Lousã esperava por nós num dia chuvoso e sombrio, mas esta Z650 RS cresce e impõe-se tanto em estrada aberta como nas torcidas curvas da serra. Dentro da sua assumida falta de proteção aerodinâmica, não se deixa envergonhar, assegurando ao condutor uma belíssima experiência de condução. O motor respira bem em velocidades mais altas, com disponibilidade e reação imediata num leque de rotações bastante amplo.
É nas zonas sinuosas das colinas que esta moto mais brilha. A caixa de velocidades permite erros, como motor a responder sempre, e em concordância também agem os travões, tanto na sensação de mordida nos discos como na sensibilidade na manete. No comportamento em curva apresenta-se agradável, divertida, consistente, linear e segura. Muito se deve à boa ciclística, mas também aos pneus escolhidos que permitem o seu sucesso neste campo. Foi também à entrada da majestosa Quinta Das Lágrimas, na calçada portuguesa molhada e reluzente que testei o controlo de tracção, e tal não é a sua eficácia que evitou uma também “majestosa” entrada ao estilo flat track, sem sustos ou final infeliz. A ergonomia permitiu conduzir um dia inteiro sem cansaço, e prosseguindo com o rol de elogios, não só no design surpreende como também a robustez dos materiais é evidente. Nada é deixado ao acaso e ressurgem detalhes dos modelos antigos de onde bebeu inspiração.

Poderíamos acabar com uma dissertação sobre a grande e distinta diferença da plataforma original ser de 4 cilindros e esta atual de dois, mas prefiro enaltecer o trabalho da Kawasaki nos últimos tempos. A Mistura da sobriedade clássica com as necessidades da funcionalidade moderna que o mercado exige fazem com que “o passado seja um lugar onde as coisas se faziam de uma forma diferente” e o perfeito de hoje, será apenas o diferente de amanhã.
KAWASAKI Z650RS
MOTOR bicilíndrico paralelo, refrigeração líquida
CILINDRADA 649 cc
POTÊNCIA 68 cv @8.000 rpm
BINÁRIO64 Nm @ 6.700 rpm
CAIXA 6 velocidades
QUADRO tipo treliça, em aço
DEPÓSITO 12 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica convencional de 41 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor horizontal
TRAVÃO DIANTEIRO 2 discos de 300 mm, pinças de 2 êmbolos
TRAVÃO TRASEIRO disco de 220 mm, pinça de 1 êmbolo
PNEU DIANTEIRO 120/70 ZR17
PNEU TRASEIRO 160/60 ZR17
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.405 mm
ALTURA DO ASSENTO 820 mm
PESO 187 kg
P.V.P. desde 8.390 €