Ensaio Harley-Davidson Pan America 1250 Special – Maxitrail à americana

Os mercados estão em constante mudança e cada vez mais se nota a vontade de quase todas as marcas entrarem no concorrido nicho das MaxiTrails. Corria o ano de 2018 quando, para surpresa de muitos, a Harley-Davidson apresentou a sua proposta para este segmento, a Pan America.

TEXTO:FILIPE MAFALDO/ FOTOS:RUI JORGE

Obrigada a inovar, mas sem querer perder a ligação à sua imagem de marca e pedigree, a equipa de design foi fundamental na criação deste novo modelo. O resultado foi de facto uma moto distinta que,ainda assim, é fácil de identificar como sendo uma Harley-Davidson, principalmente na secção frontal, onde se nota uma forte inspiração nos modelos Road Glide.Em 2022, a Pan America surge ligeiramente renovada,com novas cores, algumas melhorias ao nível da electrónica e mais elementos no catálogo de acessórios, mantendo-se a parte mecânica e estrutural praticamenteinalterada.As versões Special, como a que testámos nesta edição,distinguem-se em especial pelas suspensões semi-ativas,e pela presença do “brasão” estilizado da Harley desenhado no depósito e em parte da carenagem dianteira, estando disponíveis em diversos esquemas de cores, entre o cinza, preto e azul.

NA SELA

À primeira vista, a Pan America Special impressiona pelo tamanho, principalmente com o conjunto de 3 malas montado. Não é tanto pela altura mas sim pelo volume e a forma como o motor e todo os elementos da moto estão “compactados” entre as duas rodas.Com 254 kg em ordem de marcha (mais o peso dos acessórios e malas), esta não é uma moto leve (mesmo face à concorrência) mas também é verdade que depois de estar em andamento, o peso que sentimos parece ser bastante menor.Fruto da aplicação de um amortecedor de direção Ohlïns que não é ajustável e também de uma boa distribuição de peso, a moto mostra-se bastante estável em velocidades mais elevadas, e na utilização em fora de estrada ligeiro. Por outro lado, este mesmo amortecedor de direção é tão forte que de certa forma limita os movimentos de oscilação naturais da coluna de direção baixas velocidade, sendo por vezes necessário fazer algumas correções de trajetória.Aos comandos temos uma boa posição de condução com boa visibilidade, um guiador largo bem colocado em altura e um banco confortável com regulação em altura que não será factor limitativo em qualquer viagem de grande duração. A aerodinâmica, apesar das linhas bem“quadradas” da moto, é exemplar. Os defletores que se encontram lateralmente na zona do radiador o vidro de linhas muito simples, cumprem com eficácia sua função, sendo que, o vidro é ajustá-vel manualmente em 5 posições.No capitulo da iluminação, que é totalmente LED, a Harley marca bem a assinatura visual do modelo e acrescenta na Special as luzes de curva, que faz activar um conjunto de 6 LED em função da inclinação efectiva da moto. Os faróis auxiliares que equipavam a moto ensaiada dispõem de duas funções independentes, nevoeiro e longo alcance, e são um acessório da marca. Ficámos um pouco admirados com as pegas do passageiro serem feitas de plástico. Este é um dos pontos mais utilizados para levantar a moto em caso de queda(as motos de aventura caem de tempos a tempos, principalmente quando os caminhos se tornam mais complicados) e tentar levantar mais de 250 kg segurando uma peça de plástico relativamente flexível, pode ficar aquém do necessário.

CAVALOS COM FARTURA

O motor Revolution Max 1250, um V Twin a 60º (como não poderia deixar de ser) com 150 cv e 128 Nm de binário, e ajuste de válvulas variável, continua a se utilizado como elemento estrutural damoto, contribuindo assim para o baixo centro de gravidade e para a rigidez do conjunto. Contrariamente ao que é tradicional na marca, com motores de alta cilindrada a funcionar com rotações extremamente baixas, o Revolution Max parece ser mais rotativo e funciona melhor em médias e altas rotações, sendo as 5.000rpm um bom valor de referência para se obter uma reação rápida e enérgica. A resposta em baixas rotações é mais tímida e exige um pouco mais de progressividade no punho direito, mas permite rolar com suavidade e sem grandes necessidades de troca de caixa.Através da gestão electrónica temos ao dispor 5 mapas de funcionamento pré-definidos com diversos acertos de potência, reação do acelerador e travão motor, que estão também associados a vários níveis de ajudas electrónicas e à configuração da suspensão. Os Modos Individuais permitem ajustar, a gosto,todos os parâmetros num só mapa, bastando para isso copiar um dos mapas existentes e fazer as modificações que pretendermos. Sendo esta uma “multi-purpose vehicle”(como a marca de Milwaukee a designa),estão também disponíveis mapas para utilização mais específica em fora de estrada. A transmissão é assegurada por uma caixa de 6 velocidades suave e bem escalonada, faltando apenas o quickshifter,(poderá ser adquirido como acessório)que daria aquele toque especial quando o ritmo de condução se torna mais vivo. Em ritmos mais lentos ou em dias mais quentes nota-se algum calor junto ao pé direito, mas nada que não se veja em outros modelos da concorrência. 

SUSPENSÕES E TRAVAGEM

Este é um capítulo onde a Harley teve também de entrar em terrenos pouco habituais e inovar. Sem dúvida que conseguiu. A Pan America Special está equipada com suspensões semi-ativas e ajustadas eletronicamente com 191 mm de curso e com acerto automático da pré-carga da mola. Existem 3 modos de amortecimento para estrada (Sport,Balanceado e Comfort) e 2 para fora de estrada (soft e hard). Focando mais nos modos de estrada, notamos que o modo sport é firme e direto e ainda assim adequado para a grande maioria dos pisos. Foi o que utilizámos durante a grande maioria do tempo com esta moto, sendo necessário recorrer ao modo balanceado apenas quando o alcatrão apresenta bastante deteriorado ou quando pretendemos efetivamente uma condução mais suave e confortável. O modo comfort acaba por ser um exagero de suavidade em que parece que estamos circular sem qualquer efeito dos amortecedores. Pena que não exista um processo de ajuste direto da suspensão, o que significa que para podermos alternar entre um ou outro acerto, temos de mudar o modo de condução. O único processo possível de alterar só a suspensão, é termos dois modos de condução iguais com acertos de suspensão diferentes. Esta versão vem equipada com a grande inovação ARH (adjustable ride height)e que, em poucas palavras, faz baixar a suspensão quando paramos a moto, de forma a facilitar o acesso ao chão. Os motociclistas mais baixos (como eu!) vão seguramente gostar desta magia. Os mais altos, não irão necessitar e a função pode ser desativada. Mas há um elefante na sala… O sistema ARH, que funciona de forma exemplar e quase imperceptível, não consegue distinguir quando paramos temporariamente num semáforo ou cruzamento, de quando paramos a moto com o intuito de estacionar. Assim, o ARH baixa a suspensão e quando vamos colocar o descanso lateral, ele não passa…! Isto significa que teremos de inclinar ligeiramente a moto para a direita ao mesmo tempo que tentamos empurrar o descanso para a frente com o pé esquerdo, o que para alguém de perna curta não é propriamente fácil, nem conveniente. Ao que apuramos, este “pormenor” já foi identificado pela Harley e estarão a trabalhar numa solução mais prática. Ainda bem! A travagem está assegurada por duas pinças monobloco Brembo e discos flutuantes de 320 mm à frente e um disco de 280 mm, com bom tacto e bastante potência. Uma nota também para os pneus Scorcher, que demonstraram boa aderência nas diversas superfícies, incluindo um pouco de terra batida.

ELETRÓNICA DE TODA ESPÉCIE

Sinais dos tempos e da evolução, muitos fabricantes estão a equipar os seus novos modelos com TFTs, toda a espécie de sensores, centralinas inerciais (IMU), ajuda ativas à condução e mais umas quantas coisas alimentadas à base de electrões.A Harley-Davidson Pan America Special não escapou a esta evolução e como tal, vem equipada com um vasto leque destes equipamentos. A informação no ecrã digital de 6,8 polegadas foi revista e apresenta agora caracteres um pouco maiores para facilitar a leitura. A informação é muito completa e gerida por um conjunto de botões colocados junto aopunho esquerdo. A utilização é fácil uma vez que em cada menu, é apresentado um esquema da função que cada botão executa (confirmar, selecionar, cancelar,voltar atrás…) De salientar que o ecrã táctil pode ser utilizado directamente com os dedos. Bravo! A H-D disponibiliza uma app para smartphones, que quando conectado com a moto permite interagir em vários níveis,com grande destaque para a apresentação do mapa/GPS diretamente no ecrã. Chamadas telefónicas, música, volume e outras funções podem ser controladas por um conjunto dedicado de botões colocados junto ao punho direito. Para os menos habituados a estas modernices poderá ser muito botão e muita função para um humano só, mas temos de admitir que funciona muito bem.

PURA RAÇA

É uma Harley, tem conforto, tem qualidade, tem performance e já o demonstrou inclusivamente fora de estrada. Vejam Por exemplo o brilhante podium conseguido pelo piloto Juan Pedrero na Baja de Aragón com uma Pan America completamente original.Este é um projecto recente da marca de Milwaukee e que tem no mesmo mercado rivais com 40 anos de evolução.Alguns pormenores poderão e deverão ser revistos numa próxima geração. Mas não haja grandes dúvidas que estamos perante uma grande viajante que permitirá aos seus proprietários irem ao fim do mundo e depois voltar, mesmo que o alcatrão desapareça em alguns troços.A Harley-Davidson Pan America Special pode ser adquirida a partir de 20.900€ mais as despesas de legalização. Agora que sabemos quase tudo sobre este modelo, resta saber o que pensariam William Harley e o seu amigo Walter Davidson.