Desde que se juntou ao grande grupo austríaco da KTM, que a GAS-GAS não esconde enveredar também no mercado das motos de estrada, e fê-lo com um modelo ‘duplo’. A mesma base serve a ES (versão de Enduro) e a SM (versão de Supermoto) que partilham o quadro e motor, mas há muitas diferenças entre elas.

TEXTO:TOMÁS SALGADO/ FOTOS:SEBAS ROMERO E MARCO CAMPELLI
A GASGAS já tinha mostrado as suas intenções no asfalto com a equipa de Moto3,por isso só seria uma questão de tempo até juntarem às gamas de Motocross e Enduro algum modelo de estrada. Foi isso que fizeram agora, se bem que não houve inovação na parte técnica, já que pegaram nos mesmos modelos KTM/Husqvarna e, basicamente, mudaram o aspecto com a agressiva decoração GASGAS, e um pouco a ergonomia para o condutor.
PROVAS DADAS
A plataforma de onde partiram estas duas motos é a das KTM 690 Enduro R e KTM 690 SMC R, e das Husqvarna 701 Enduro e 701 Supermoto, que contam com o motor monocilíndrico LC4, o maior e mais potente monocilíndrico em produção.Com uma árvore de cames apenas a acionar as quatro válvulas, tem uma cabeça bem compacta, mas ainda assim é capaz de oferecer 74 cv às 8.000 rpm e um binário de 73,5 Nm às 6.500 rpm,valores animadores para um ‘mono’ com 692 cc.A caixa é de seis velocidades, e a embraiagem é deslizante e assistida, reduzindo o torque na roda traseira em desaceleração e reduções mais‘vivas’, mas apertando mais os discos uns contra os outros quanto mais forte aceleramos. Com isso temos uma embraiagem muito eficiente sem que tenha um tato duro na manete. Conta ainda comum sistema de quickshift que funciona para reduzir e para subir de mudança. A eletrónica está presente em mais aspetos,graças também ao acelerador ride-by-wire. Com isso conseguimos ter dois modos de condução,sendo que o Modo 1 é o Modo Street na ES 700 e na SM 700 e oferece uma resposta sempre pronta e viva e mantém ativos o ABS e o Controlo de Tração (TC). O Modo 2 já difere nas duas motos: NaES 700 é o Modo Offroad, tornando o acelerador mais direto e reduzindo a ação do TC, deixando a roda patinar quando tiver que ser, e permitindo levantar a roda dianteira sem cortar na potência.Na SM 700 é o mesmo mote, tornando a resposta ao acelerador mais agressiva e passando para oTC Supermoto, que deixa a roda dianteira levan-tar e a traseira patinar em aceleração à saída das curvas, bem ao estilo Supermoto. Em ambas as motos o Modo 2 desativa o ABS na roda traseira,e o TC também pode ser desconectado no mesmo computador onde escolhemos os Modos. O ABS da Bosch, Cornering ABS, que conta com sensores de inclinação para enviar a informação para a ECU e outras unidades de controle e assim ajustar a ação da melhor forma. O escape foi desenhado para cumprir Euro5, mas para emitir um som forte, permitindo ao monocilíndrico ‘respirar’ sem restrições e ‘encaixar’ na perfeição nas linhas das duas motos.

TRELIÇA E PLÁSTICO!
Na ciclística também partilham tudo com as irmãs austríacas, e quase tudo uma com a outra. O quadro é de treliça em aço ao estilo das motos de Rally, oferecendo rigidez e flexibilidade nos pontos certos. O braço oscilante de alumínio também é partilhado, assim como o sub-quadro traseiro que também faz a vez do depósito de combustível de 13,5 lts de capacidade é uma única peça em resistente plástico poliamida. É muito forte, e ajuda a manter o centro de gravidade mais baixo. A caixa do filtro de ar e todos os plástico e assento são semelhantes nas duas motos, e obviamente com uma identidade própria e diferente das KTM e Husqvarna, mas é aquique os caminhos se separam.
ES 700
As rodas de raios com 21” na dianteira e 18” na traseira, com pneus Continental TKC,são o que mais se nota entre a ES e a SM,mas as diferenças são mais profundas. A forquilha é uma WP XPLOR, de cartucho aberto e semelhante às utilizadas nas motos de Enduro. A esquerda tem o cartucho(e afinação) da compressão, e a da direita da extensão, evitando assim que uma coisa influencie a outra quando utilizamos os afinadores no topo das bainhas para ajustar. As mesas de direção têm a flexibilidade certa para esta versão de Enduro e os apoios do guiador com ‘silent-blocks’ para absorver vibrações, e a travagem conta com uma pinça de dois êmbolos a morderum disco de ø300mm.Com o Modo 2, Offroad, desliga-se o ABS na roda traseira, mas ainda podemos desligar o ABS completamente para um fora de estrada mais ‘sério’, e este só volta a ligar-se sozinho se desligarmos e voltarmos a ligar a moto na chave.
SM 700
A moto de Supermoto conta com rodas de alumínio de 17”, leves e pretas para um ar mais ‘racing’. Montam pneus Continental ContiAttack SM EVO, também eles de carcaça leve para garantir uma melhor manejabilidade. A suspensão também está a cargo da WP, obviamente, mas com uma forquilha APEX especificamente desenhada para Supermoto. Também conta com afinador da compressão na bainha esquerda e da extensão na direita, e estão montadas numas mesas de direção especiais. Também elas montam o guiador com apoios de borracha para absorver as vibrações, mas contam com um offset de 24 mm na posição standard, que pode ser mudada para 22 mm facilmente, o que permite mudar bastante o comportamento da ciclística ao nível da agilidade e/ou estabilidade. A travagem dianteira é bem mais forte, com uma pinça radial de quatro êmbolos a ‘trincar’ um disco de ø320mm,e uma bomba radial no topo também.
O amortecedor também é um WP APEX, e a travagem traseira é idêntica nas duas motos, com uma pinça de um êmbolo e um disco de ø240mm.

IGUAIS, MAS DIFERENTES
São motos obviamente diferentes, até por-que os conceitos e utilizações para que foram desenhadas são quase o oposto, mas são também ligeiramente diferentes das motos de onde descendem.Foi perto de Girona, a alguns quilómetros de Barcelona e a terra original da GASGAS, que nos foram apresentadas estas primeiras motos de estrada da marca, e contámos ainda com duas surpresas extra.Com a ES 700 rodámos quase semprefora de estrada, com um percurso de mais de 50 km que variou dos single-track rolantes a caminhos florestais mais largos e abertos, inclusive com uma passagem dentro de um rio. Os cerca de 150 kg de peso não se notam de forma negativa,graças à boa distribuição de peso e a um centro de gravidade baixo. É fácil de levar mesmo nos single-track e com bom ritmo,mas obviamente que num ritmo menos agressivo que numa endurista mais ‘pequena’. Podemos, e conseguimos andar depressa, especialmente nas zonas mais abertas onde podemos explorar mais os 74 cv de potência, apenas temos que o fazer da forma certa. O quickshift é útil em estrada, mas nem tanto fora dela, e foram algumas as vezes que aconteceu a moto ir a falhar sem perceber porquê. Era a bota que ia a tocar no pedal de mudanças e acionava a parte eletrónica do sistema mas sem que fizesse a pressão suficiente para trocar a mudança, pelo que era essa a razão de falhar. Claro que a partir daí tive mais cuidado com o pé esquerdo, mas ainda assim não é muito útil nessas circunstâncias. As suspensões funcionam bem, com boa leitura nas irregularidades pequenas e a aguentar bem alguns impactos maiores quando vamos mais rápido. Ainda assim o amortecedor é ligeiramente mais forte que a forquilha, o que nos permite levar carga para uma viagem sem que a ES 700 se queixe. O potencial desta moto é mesmo esse: agarrar na trouxa e na moto, sair de casa pelo asfalto e fazer quilómetros dentro e fora de estrada à bruta, sabendo que temos uma moto robusta, com um motor fiável, com intervalos de manutenção grandes.
Para finalizar a manhã, rodámos numa pista com alguns saltos, curvas com e sem apoio e zonas rápidas. A ES 700 não se negou, e a verdade é que nos brindou com várias voltas bem divertidas, com a cereja no topo a ser a piloto espanhola Laia Sanz que se juntou a nós na pista para umas voltas.
SM 700
A Supermoto é muito mais viva de reações que a Enduro, e isso percebeu-se logo nos primeiros quilómetros dos cerca de 100 que percorremos ao longo da tarde maioritariamente em estradas nacionais. Mais baixa, suspensões mais duras, mapas de injeção diferentes e uma geometria dianteira mais agressiva dão o mote para uma moto super divertida e segura. O ritmo foi aumentando ao longo do percurso conforme se foi percebendo limites da SM ou, mais precisamente,a quase ausência deles. A verdade é que já íamos muito depressa, num ritmo bem forte, a travar tarde, fazer trajetórias, corrigir curvas que apertavam a meio, e a SM700 nunca teve uma reação estranha ou imprevisível. As suspensões são firmes mas com boa leitura e algum conforto,sem terem um ‘setting’ demasiado ‘racing’, e a moto é bastante estável de geometria.A resposta do motor é sempre cheia desde os regimes baixos, onde é mais suave do que se espera de um monocilíndrico, e puxa de forma linear e sem quebras até ao topo dos 74 cv. O quick shift funciona bem e é útil nesta versão, seja na estrada ou em circuito, como acabámos por ver, mas já lá vamos. A travagem é soberba, tanto impacto como em potência pura, ‘safando–nos’ de apertos sem problemas.Com a SM 700 veio a segunda surpresa do dia, quando entrámos num circuito privado tipo kartódromo e parámos as motos junto às boxes. Acho que todos os jornalistas esboçaram um sorriso quando viram o anfitrião, nada mais do que Sete Gibernau, o espanhol que foi um dos grandes rivais de Valentino Rossi e que utilizou a sua pista para melhorar a técnica de alguns dos pilotos mundialistas. Tivemos o privilégio de ter uma aula com ele e rodar em pista ao mesmo tempo enquanto nos aperfeiçoava a técnica e víamos opotencial da moto em circuito. Se na parte da técnica deste vosso escriba ainda há muito a melhorar, já a GASGAS portou-se à altura, com o mesmo caráter que nos tinha mostrado na estrada. Fácil, neutra e a permitir divertir-nos em segurança. Ali abusando mais da inclinação, os pneus Continental cumpriram sem problemas nem escorregadelas, mostrando que foram uma boa escolha para equipar a SM.
DIFERENTE ESPÍRITO
É onde os homens da GASGAS querem fazer a diferença para as outras marcas do grupo, com uma abordagem mais jovem e arrojada. Esteticamente estão agressivas,bem diferentes da Husqvarna, por exemplo, que está no extremo oposto. Os preços de ambas é praticamente idêntico ao dos mesmos modelos da KTM, e já as podem encontrar nos concessionários. Obviamente que já há bastantes peças para aprimoradas 700 vermelhas, como escapes, tampas de motor, suporte de matrícula, proteções,etc, e há também um sem número de itens para os utilizadores, como equipamentos TT e SM, botas, mochilas, casacos, capacetes e afins.
GASGAS 700 ES / SM | |
MOTOR | monocilíndrico, refrigeração líquida |
CILINDRADA | 692 cc |
POTÊNCIA | 55 kW (74 cv) @8.000 rpm |
BINÁRIO | 73,5 Nm @6.500 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | Tubular em aço |
DEPÓSITO | 13,5 litros |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha invertida WP de 48mm, curso de 250 mm / 215 mm |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor WP,curso de 250 mm / 240 mm |
TRAVÃO DIANTEIRO | disco de 300 mm / 320 mm,pinça de 2 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 240 mm, pinça de 1êmbolo |
PNEU DIANTEIRO | 90/90-21 / 120/70 ZR17 |
PNEU TRASEIRO | 140/80-18 / 160/60 ZR17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | n.d |
ALTURA DO ASSENTO | 935 / 898 mm |
PESO | 146 kg / 148,5 kg (a seco) |
P.V.P. | 12.091€( 700 ES) |
P.V.P. | 12.277€(700 SM) |









