Ensaio Aprilia Tuono 660 – streetfighter para todos

Corria o ano de 2002 quando a Aprilia apresentou ao mundo do motociclismo onome TUONO. Depois de alguns fãs da marca tentarem personalizar as suas RSV Mille, a superbike do momento, retirando carenagens e colocando guiadores mais largos em lugar dos avanços originais, a marca de Noale apresentou no 26° Salão de Bolonha aquela que seria a primeira Tuono da história.

TEXTO:FILIPE MAFALDO/ FOTOS:BRUNO RIBEIRO

A plataforma era a mesma da RSV Mille, mas desta vez, com carenagens frontais mais reduzidas e fixas ao quadro, um guiador amplo, melhorias significativas ao nível das suspensões e travões, e um peso mais baixo que o da sua irmã de pista.20 anos depois, somos presenteados com a mais recente Tuono da história, a Tuono 660 Factory.

VERSÃO FACTORY

A Aprilia Tuono 660 Factory, tal como no passado, parte da versão carenada RS 660, partilhando os componentes mecânicos e estruturais, tendo depois “vestes” mais reduzidas e um guiador mais largo e mais alto, que altera consideravelmente a posição de condução, o conforto e a facilidade de manobra. Mas as diferenças não ficam por aqui.A nova versão Factory, viu o seu peso reduzido em 2 kg, graças à utilização de uma nova bateria de lítio,possui a relação final mais curta, obtida através da aplicação de um pinhão de ataque de 16 dentes (1 a menos que na Tuono 660) e teve um aumento de potência de 5 CV, para os mesmos 100 cv que na RS 660. A acompanhar estas alterações na unidade motriz, a Tuono 600 Factory conta agora com novas suspensões. Na frente com uma forquilha invertida de 41mm da Kayaba com 110 mm de curso, e regulável em compressão, expansão e pré-carga da mola. Na traseira foi aplicado um monoamortecedor com 130 mm de curso, também completamente ajustável e com reservatório separado.Também de série nesta versão está a centralina inercial de 6 eixos, que contribui ativamente para a gestão do sistema de travagem em curva, assim como para o pacote APRC de ajudas electrónicas que inclui o ABS em curva, o controlo de tracção e o“wheelie control”. O quick shifter bidirecional faz também parte do equipamento de série.

LINHAS

O design desta moto marca pela positiva. Com a frente bastante angular, pequenas “asas” embutidas nas laterais e com o interior pintado em vermelho, o depósito com linhas bem vincadas e a traseira com arestas bastante agressivas, principalmente com a tampa que substitui o lugar traseiro, toda a moto transpira dinâmica e agressividade.Para distinguir esta versão Factory, a Aprilia apostou numa pintura exclusiva em preto, com diversos apontamentos de vermelho vivo, que lhe conferem um aspecto sóbrio e elegante.Na frente, as ópticas em LED, que incluem luzes de curva (LED específicos que iluminam o interior da curva) estendem-se pela frente da moto e ocupam grande parte desta secção, estando o foco de máximos montado centralmente numa pequena óptica isolada. Existe também o pequeno deflector escurecido, típico das Tuono e que se revelou surpreendentemente eficaz.O braço oscilante tem uma geometria particular que permite a colocação da panela e saída de escape bastante próxima e sem necessidade de um silenciador“ali pendurado” conferindo linhas mais limpas à lateral da moto.

EM ESTRADA

Aos comandos, as primeiras sensações são de conforto e simplicidade. Na verdade, ao fim de poucos quilómetros sentimo-nos tão à vontade na máquina que parece que já somos velhos conhecidos. A posição de condução é bastante neutra, com o guiador largo colocado a uma altura correta e que não nos obriga a colocar demasiado peso nos pulsos, em conjunto com o assento macio e bem esculpido, ambos a tornarem a condução muito agradável mesmo em deslocações mais prolongadas.O pequeno defletor de vento frontal marca o carácter desportivo desta moto, sendo bastante eficaz a retirar algum ar da zona do tronco e sem criar qualquer espécie de turbulência no capacete.Os diversos botões dos dois lados dos comandos estão bem colocados e apresentam um tacto agradável, assim como o comutador do cruise control que está presente no punho esquerdo e que é relativamente fácil de activar com o polegar.O painel de instrumentos é um TFT com dimensões adequadas e integrado na carenagem frontal, com um bom contraste e perfeitamente visível com sol forte, mas que requer alguma habituação para se encontrar facilmente a informação pretendida. A operação dos vários menus e configurações não é a mais intuitiva, mas com um pouco de hábito, rapidamente chegamos ao menu que pretendemos.O motor da Tuono é o bicilíndrico paralelo da marca, de 660 cc, com refrigeração líquida e 4 válvulas por cilindro, capaz de gerar 100 cavalos e 67 Nm de binário, que também é utilizado na RS e na recente Aprilia Tuareg. A combustão é assimétrica e desfasada a 270º, criando um som semelhante a um motor V2 (diria até 2 em L, como os que utiliza uma outra marca italiana…). E que som!!!A gestão electrónica conta com 3 mapas de utilização para estrada, sendo um deles completamente ajustável em diversos parâmetros, e dois outros mapas no modo “Race” em que boa parte das ajudas electrónicas passa a estar desligada. Agradou-nos a saída em baixa rotação mas nota-se um pequeno poço cerca das 6.000 rpm. Depois, o motor cresce com muita energia e com uma sonoridade contagiante, que nos relembra que esta é de facto uma moto desportiva de pura raça. O quickshifter, de série nesta versão Factory, completa o conjunto e permite trocas de caixa rápidas e suaves em toda a gama de rotações.

CICLÍSTICA

As suspensões serão talvez o elemento mais distintivo e mais relevante da Tuono 660 Factory. O conjunto de suspensão dianteira desenvolvido pela Kayaba,completamente regulável, tem um excelente desempenho e surpreende pela boa capacidade de filtrar irregularidades,pequenos buracos e quebras do piso,ao mesmo tempo que mantém a firmeza necessária para um andamento mais vivo. Na traseira o monoamortecedor Sachs com reservatório isolado cumpre perfeitamente a tarefa, e apesar da diferença de fabricante, trabalha em boa harmonia com o conjunto dianteiro. Experimentamos outros acertos e vários tipos de estrada, mas o “setup”de fábrica é certamente um dos mais equilibrados,sendo necessário proceder a ajustes apenas para situações particulares.Os travões dianteiros Brembo, com discos flutuantes de 320 mm e pinças radiais de 4 êmbolos são doseáveis e potentes, e em conjunto com os pneus Pirelli RossoCorsa II permitem perceber com facilidade os limites de aderência da travagem.Em relação ao travão traseiro, o cenário não é tão bom. É mais difícil sentir o efeito do travão e a potência fica um pouco aquém do expectável, tendo em conta obom desempenho do conjunto dianteiro. Com a inclusão da IMU de 6 eixos, a Factory passou a contar com ABS multi–mapa (com possibilidade de ajuste em 3 níveis de intervenção) e “Cornering ABS”,que faz ajustar a travagem em função do ângulo de inclinação, o que é sempreuma segurança acrescida.Com esta nova Tuono 660 Factory, a Aprilia reforça a sua posição na gama naked/streetfighter de média cilindrada. Uma moto muito bem equipada, com elementos de marcas nobres, e que revelou uma grande polivalência. É divertida, fácil de conduzir e enérgica, e tanto serve para um trackday como é capaz de circular com eficácia e conforto em ambiente urbano. Por apenas 600€ de diferença em relação à versão standard, conseguimos uma moto muito mais completa, principalmente no que diz respeito às suas suspensões. O valor anunciado é de 11.590€, ao qual acrescem as despesas de documentação.