As motos utilitárias/naked de média cilindrada são já, por si só, muito atraentes, económicas e divertidas. Se a isso juntarmos um estilo que recorda belíssimas motos do passado,então ficamos com modelos realmente apelativos, tanto numa utilização diária como em passeios de fim de semana. É o caso das duas motos japonesas destas páginas, que no final até acabam por se diferenciar em vários aspetos

TEXTO: Fernando Neto / FOTOS: BRUNO RIBEIRO/Colaboração: João Fragoso
As motos deste segmento acabam por ir ao encontro de utilizadores bem diversos. Desde condutores jovens ainda com pouca experiência–que veem no retro uma forma de estar na vida–passando pelo público feminino ou pelos motociclistas veteranos que tencionam voltar a ter algo mais leve e fácil, as naked de média cilindrada (especialmente as neo-retro de que falamos hoje) são uma escolha de muitos. E é claro, existem mais opções no segmento dentro desta janela de potência e preço, com motorizações diversas:as principais rivais serão a Triumph Trident 660 (8.295 €) equipada com um motor de 3 cilindros que debita 81 cv de potência; a Honda CB 650R (8.200 €) com o seu 4 cilindros em linha e 95 cv e até mesmo a mais veterana Suzuki SV 650 na versão XA, de estilo café racer (7.399 €), com o motor de 2 cilindros em V e cerca de 73 cv de potência. Estas três motos, apesar de estilizadas, são no entanto algo mais contemporâneas que as japonesas mais puristas deste comparativo, trabalho onde poderíamos ainda incluir as espetaculares mas também mais caras Scrambler Ducati, com os seus motores bicilíndricos de 800 cc.
Homenagem à B1
Testada no mês passado aqui na Motociclismo, a Kawasaki Z650RS é um modelo recém lançado cheio de estilo. Está inserido no conceito Retrovolution da marca japonesa e tem como base de inspiração a Z650 B1, de 1977, embora o motor seja o bicilíndrico paralelo de 649 cc, de refrigeração líquida, já conhecido de outros modelos como a Z650 e a Ninja 650. Uma motorização bastante linear-equipada com caixa de 6 velocidades e embraiagem deslizante e assistida-que debita 68 cv de potência às 8.000rpm e 64 Nm de binário binário às 6.700 rpm, estando disponível um kit de redução de potência de 35kw para ser compatível com carta A2 (a Yamaha possui o kit mas apenas para a XSR 700, não para a X Tribute). Passando para a ciclística, tudo aqui é também simples mas mais do que comprovado. Monta um quadro tubular em treliça, uma forquilha dianteira convencional de 41 mm (curso de 125 mm) e um monoamortecedor com ajuste na pré-carga, montado na horizontal com 130 mm de curso. Na Travagem, discos duplos dianteiros de 300 mm e um simples na traseira de 200 mm, com ABS da Bosh,sendo ainda de destacar a presença de um farol redondo LED e uma instrumentação de duplo mostrador analógico com informação digital ao centro. As jantes são multi braços, douradas apenas nesta decoração Verde Edição Especial, mas também existe uma decoração Cinza Edição Especial, está com um depósito de pintura, digamos, menos retro. A decoração Preta é considerada base e por isso mais acessível, embora as diferenças sejam mínimas nesse aspeto. As rodas são de 17”, a distância entre eixos é de 1.405 mm e o assento está montado a 820 mm do solo. Outros dados importantes: o depósito possui 12 litros de capacidade e o peso em ordem de marcha é de 187 kg.

Homenagem à XT
A rival da Kawa também presta uma homenagem, mas à Yamaha XT 500 de 1981. Esta X Tribute foi lançada em 2019, tendo como base a XSR 700 com uma série de alterações, mas é importante salientar que a moto destas páginas era ainda uma versão 2021, Euro 4, pelo que a X Tribute que poderão encontrar nos concessionários Yamaha a partir de meados de Março já terá um farol dianteiro LED,piscas LED, uma diferente proteção de radiador e comandos alterados onde já existe um botão para alterar as informações da instrumentação. Quanto ao sistema de escape, o completo e elevado da Akrapovic das fotos era opcional e vai continuar a ser, apresentando neste momento um PVP ao público de 1.766,00 €.Em termos de características, a X Tribute ’22 monta um bicilíndrico em linha, de 689 cc e 73,4 cv de potência às 8.750 rpm para um binário máximo de 67 Nm às 6.500 rpm, motor que dá vida a mais uma série de modelos da casa dos 3 diapasões. Monta um quadro tubular em aço, uma forquilha dianteira de 41 mm e um monoamortecedor simples atrás, ambos com 130 mm de curso, e na travagem encontramos dois discos dianteiros de 282 mm na frente e um de 245 mm na retaguarda. As rodas são de 17”, a distância entre eixos é de 1.405 mm e o peso do conjunto é de 190 kg. Esta continuará a ser a única decoração deste modelo (da XSR 700, também ligeiramente alterada para 2022 existem duas), que possui um depósito de 14 litros e um assento de 855 mm ao solo. Face à XSR 700,refira-se que esta urban scrambler X Tribute conta com uma série de diferenças, nomeadamente um guiador tipo TT 40 mm mais largo e com travessão, assento plano específico e mais elevado, pousa-pés mais amplos de estilo off-road e pneus bem gordos, como são os Pirelli MT60 RS com os seus grandes blocos. Jantes douradas, depósito de pintura muito semelhante à XT 500 de ’81, e proteções e foles de borracha na forquilhas são outras das alterações num modelo que, à semelhança da Z650RS pode ser equipado com muitos opcionais.

O confronto
Cada uma ao seu estilo, estas duas motos são muito bonitas, embora a Kawasaki pareça sempre mais“encorpada”, quase uma réplica da Z900RS e fazendo lembrar também a saudosa XJR 1300 da marca concorrente. A Yamaha por seu lado, apresenta um visual mais irreverente, e ao seus comandos sentimos também isso: com um guiador largo, pernas mais dobradas e um motor sempre vivo e com uma boa caixa de velocidades (a que se somava um escape Akrapovic de sonoridade fantástica), na X Tribute temos sempre vontade de acelerar mais e curtir, parecendo que recuámos 20 anos na idade.Com uma direção bem mais leve , ausência de eletrónica a castrar a condução e pneus muito aderentes que permitem depois belas derrapagens em asfalto mais polido ou até na terra, percebemos como a XSR ganhou neste modelo uma componente radical interessante. Mas atenção, pois apesar de toda esta diversão as suspensões são bastante limitadas, esgotando facilmente o curso nos dois eixos, mesmo em asfalto. O assento é escorregadio,a travagem cumpre sem problemas mas obriga a um pouco mais de força na manete do que na Kawasaki, e com este escape subido (recordamos, ainda versão Euro 4), o passageiro desce da XTribute com a roupa a cheirar um pouco a gases de escape. A instrumentação é bonita e completa, mesmo só com um mostrador, e se na Kawasaki temos indicação da autonomia, na Yamaha temos informação da temperatura exterior. Empate no capítulo dos instrumentos.Quanto à Kawasaki, é muito fácil e confortável. Possui um guiador tradicional, as pernas vão bem encaixadas e o assento é muito macio. O passageiro também vai melhor neste modelo, embora nenhum dos modelos possua pegas rígidas. A Z650RS parece a nossa moto de toda a vida e faz tudo bem, já que até as suspensões são bem mais capazes que as da XSR, mas o motor é menos emotivo e o som do escape também não ajuda muito nesse aspeto (ok, a Yamaha fez “batota” neste aspeto). Um pouco menos ágil e com uma caixa de velocidades mais lenta, a Kawasaki parece ser no entanto “mais moto”,pronta para muitos e bons serviços ao longo dos anos, beneficiando também de uma embraiagem mais leve (e ajuste da manete na distância ao punho, que a Yamaha não tem), um consumo médio, nos instrumentos, um pouco mais baixo (4,4 contra 4,8 l/100 km da X Tribute) e suspensões com mais qualidade, em passeio e em ritmo vivo. Curiosamente, mesmo parecendo muito mais vivo, o bicilíndrico da Yamaha vence nas recuperações por muito pouco, o que mostra que muitas das sensações obtidas surgem por causa do escape, tanto do acelerador e da própria posição de condução.
A Kawasaki possui pneus 100% estradistas são igualmente muito aderentes, neste caso os Dunlop Roadsport 2, pelo que estas duas máquinas vêm bem calçadas para uma condução ao ataque!

A mulher e a amante
Perdoem-me os mais sensíveis por este subtítulo, mas após alguns dias a conduzir estas motos foi imediatamente nisto que pensei. A Kawasaki é atualmente uma moto mais completa que a sua rival, e na verdade não existe nada que seja mau na Z650RS, pelo que temos aqui uma mulher (perdão, moto)para toda a vida se assim o entendermos. Do outro lado temos uma XSR 700 X Tribute que é menos clássica e mais vistosa. Também podemos andar com ela na cidade e passear ao fim de semana (até a podemos levar para o mato), mas iremos sempre ouvir mais queixas por estar de saltos altos (ou com suspensões menos boas). Ou seja, muito honestamente e parando agora com as piadas sexistas,sentimos que a Z650RS é uma moto melhor e mais completa, mas a verdade é que nos divertimos sempre mais com a X Tribute, e isso não dá para distinguir numa tabela de pontuação. Por isso, antes de escolherem com a cabeça ou com o coração, façam um teste drive e decidam qual se enquadra melhor na vossa vida!

KAWASAKI Z650RS | |
MOTOR | bicilíndrico paralelo,refrigeração líquida |
CILINDRADA | 649 cc |
POTÊNCIA | 68 cv @8.000 rpm |
BINÁRIO | 64 Nm @ 6.700 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | tipo treliça, em aço |
DEPÓSITO | 12 litros |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha telescópica de 41 mm, curso de 125 mm |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortece-dor horizontal, curso de 130 mm |
TRAVÃO DIANTEIRO | 2 discos de 300 mm, pinças de 2 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 220 mm, pinça de 1 êmbolo |
PNEU DIANTEIRO | 120/70 ZR17 |
PNEU TRASEIRO | 160/60 ZR17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1405 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 820 mm |
PESO | 187 kg |
P.V.P. | 8.390€ |
UNIDADE TESTADA | 8.495€ |
YAMAHA XSR700 XTRIBUTE | |
MOTOR | bicilíndrico paralelo, refrigeração líquida |
CILINDRADA | 689 cc |
POTÊNCIA | 73,4 cv @8.750 rpm |
BINÁRIO | 67 Nm @ 6.500 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | tubular em aço,tipo diamante |
DEPÓSITO | 14 litros |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha telescópica de 41 mm, curso de 130 mm |
SUSPENSÃO TRASEIRA | mono amotecedor, curso de 130 mm |
TRAVÃO DIANTEIRO | 2 discos de 298 mm, pinças de 2 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 245 mm, pinça de 1 êmbolo |
PNEU DIANTEIRO | 120/70 ZR17 |
PNEU TRASEIRO | 180/55 ZR17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1405 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 855 mm |
PESO | 190 kg |
P.V.P. | 8.995€(modelo euro5) |
ESCAPE AKRAPOVIC | 1.766€ |





