Para muitos, a 125 cc ideal é uma scooter automática, sempre fácil e muito versátil nas pequenas deslocações. Para outros, uma moto de estrada cumpre melhor os propósitos,com a estética e carácter a fazerem desde logo o condutor sonhar com outros modelos mais potentes. Neste Comparativo juntámos algumas das propostas mais atrativas do segmento,todas elas de desenho neo retro / scrambler e com muitas qualidades para deslocações seguras, económicas e divertidas!

TEXTO: FERNANDO NETO / FOTOS: RUI JORGE
Colaboração: João Fragoso, Nuno Margaça e João Grilo
Já lá vai a altura das agressivas e divertidas 125 cc a 2 tempos, com tudo aquilo que tinham de bom e de menos positivo. Os tempos agora são outros, e se por um lado ir buscar uma dessas DTR ou NSR dos anos ’90 ao mercado de usados (em bom estado) é quase uma tarefa de gente rica, por outro lado podemos comprar uma 125 nova que gasta menos de metade do combustível dessas relíquias; e como isso é importante nos dias que correm! Pois bem,as atuais 125 a 4 tempos são menos emotivas e têm a potência limitada por lei aos 11 Kw,mas desta forma podem ser conduzidas por quem tem apenas carta de condução automóvel, sendo de um modo geral muito fiáveis e atrativas esteticamente.

Enquadramento
São muitas as propostas que existem entre as 125 naked, pelo que tivemos de filtrar:escolhemos as que têm um posicionamento mais elevado em termos de preço e qualidade respetiva, e optámos pelas que oferecem um desenho mais neo retro, tão em voga hoje em dia. Tentámos também juntar outra máquina importante do segmento, a Honda CB125R ,(PVP de 4.690€) mas infelizmente não havia nenhuma unidade disponível para teste.
Resta dizer que, apesar do estilo clássico ou vintage, estas motos pouco ou nada perdem para outros modelos naked mais agressivos ou até para as desportivas de 125 cc, até porque todas estão no limiar da potência máxima permitida. Mas em relação a estas quatro motos,as diferenças entre elas serão apenas no campo do gosto pessoal ou será algo bem mais do que isso? É o que iremos ver.
Husqvarna
Desde o regresso mais em força da Husqvarna ao mercado, em 2013 quando foi adquirida pela KTM, que a marca originalmente sueca passou a ter os seus produtos num patamar mais premium, tanto os mais conotados modelos de off-road como os mais recentes produtos de estrada. É o caso das Svartpilen e Vitpilen, que até podem ter uma base KTM Duke, mas têm claramente o seu ADN próprio. A Svartpilen destas páginas, semelhante em praticamente tudo à sua mais potente irmã 401, tem de facto muito para contemplar, e à exceção da decoração mais sóbria, é tudo menos uma moto enfadonha! Destaca-se pelo motor monocilíndrico de 11 kw de potência refrigerado por líquido, pelo quadro tipo treliça,as suspensões são WP Apex e os travões Bybre com um grande disco dianteiro, montando ainda belas rodas de raios com pneus Pirelli Rally STR. O assento do condutor é algo duro–à boa moda das máquinas austríacas–e o do passageiro macio mas de dimensões reduzidas,sendo a instrumentação digital igualmente irreverente em termos estéticos e contando comas principais informações: autonomia, dois trip, indicação da mudança engrenada, etc. OABS da Bosch pode ser desativado na roda traseira e existem belíssimos detalhes por todo oconjunto, além de luzes LED e manetes reguláveis na distância ao punho. A Svartpilen monta ainda uma curiosa grelha no depósito, que permitirá colocar um pequeno saco de depósito, específico da marca, sendo a lista de acessórios bastante interessante Quanto a números: 146 kg (a seco), um depósito de 9,5 litros, e um assento colocado a 835 mm do solo.

SWM
Com origem em Itália, onde continua a ser desenhada e produzida, a SWM é uma marca que já leva muitos anos de história, os principais ligados à conquista de várias vitórias em provas de motocross, enduro trial nos anos 70′ e 80′. Hoje em dia a marca pertence ao Shineray Group e a gama de motos é bastante completa e diversificada, como testemunhamos ainda recentemente na última edição do Salão de Milão: modelos de enduro, supermoto e trail podem ser encontrados, assim como alguns conjuntos clássicos com motores monocilíndricos de 445 cc e algumas motos de 125 cc. Entre as mais pequenas, as mais clássicas são a Ace of Spades e esta Gran Milano Outlaw 125, que se distinguem em especial pela colocação elevada dos escapes na versão destas páginas, de estilo scrambler. No entanto, as belas rodas pretas raiadas montam pneus 100% estradistas (Pirelli Diablo Rosso2), o que parece não condizer muito-apesar das linhas não deixarem de ser apelativas, com um certo toque artesanal. Quanto ao restante, esta SWM monta um moderno motor que debita 15 cv de potência, um quadro simples em aço, suspensões Fastace com duplo amortecedor traseiro e travões de disco nos dois eixos, com ABS. A instrumentação digital é demasiado simples, mostrando as informações básicas mas sem apresentar indicador de mudança engrenada, o que poderá fazer falta aos mais inexperientes. Os assentos são bons e as manetes não têm ajuste na distância ao punho mas oferecem um bom tato, num conjunto que mostra uma qualidade que varia bastante a nível de componentes. O peso desta Outlaw é de 130 kg (a seco), monta um depósito de 16,5 litros de capacidade e oassento está localizado a 720 mm do solo.

Yamaha
Entre os vários modelos de estrada da Yamaha com 125 cc, esta XSR é claramente o formato mais clássico, fazendo imediatamente lembrar as XSR 700 e XSR 900 que habitam há mais tempo na gama do construtor japonês. Uma moto de dimensões XL (para uma 125cc, claro está), que monta um quadro Deltabox e iluminação full LED, sendo o motor monocilíndrico o mesmo que equipa as R 125 e MT-125, mas devidamente afinado para este modelo, possuindo refrigeração líquida e sistema VVA para uma subida de regime sempre linear e forte. Debita os 11 kw de potência da praxe, monta suspensões KYB nos dois eixos e as jantes de 10 braços possuem pneus IRC. Na travagem, a mesma solução para todas as motos deste trabalho, um disco em cada eixo, sendo a pinça de 2 êmbolos na frente. Quanto à instrumentação digital, é atrativa e a mais completa de todas, com 2 trips,computador de bordo (o consumo médio registado foi de 2,4 l/100 km), e mais algumas informações, mas em termos de visibilidade o painel deixa um pouco a desejar. As manetes não são ajustáveis e esteticamente possui belos pormenores, fazendo lembrar as XJ do passado e onde somente o desenho do escape merecia algo mais. Existe alguns acessórios interessantes para este modelo, que pesa 140 kg, monta um depósito de 11 litros de capacidade e tem o assento a 815 mm do solo.

Zontes
Com uma gama composta por modelos de diversos estilos de 125 cc e 310 cc (para já), a Zontes tem vindo a fazer uma caminhada sustentada e muito interessante no mercado nacional. Marca chinesa do grupo Tayo Motorcycle Technology fundada em 2003, a Zontes possui uma fábrica gigante e altamente tecnológica, com todos os modelos da gama a mostrarem um elevado equipamento para um preço final muito interessante. Esta G1X apresenta linhas scrambler (também existe a versão G1, mais acessível, com jantes convencionais) e por isso monta belas jantes de raios tangenciais com pneus tubeless, além de iluminação LED e espelhos de formato clássico, que numa montagem tradicional deverão ser colocados na parte superior do guiador, ao invés do que sucedeu nesta unidade das fotos. É a única que possui pegas (sob o assento) para o passageiro, vem com proteções de
motor e de manetes de origem, e as próprias manetes são ajustáveis na distância ao punho.O motor refrigerado por líquido debita 14,5 cv de potência e esta G1X destaca-se ainda por possuir uma ignição com tranca que impede a colocação da chave. Possui dois modos de condução (embora sem grandes diferenças notórias entre eles), o braço-oscilante fundido tem um aspecto formidável e o escape tem um formato lateral curto. Os pneus esteticamente muito semelhantes aos Pirelli são da marca CST e podemos escolher entre iluminação diurna e noturna. Quando usamos o formato noturno os comandos ficam retroiluminados, algo que por vezes motos turísticas bem caras nem sequer possuem!Suspensões tradicionais e um disco de travão em cada eixo com ABS Bosch fazem a festa, com a instrumentação a não possuir computador de bordo (a Yamaha é a única nesse departamento), mas oferecendo as principais informações, entre as quais um indicador de combustível que levará muito tempo a baixar pois o depósito tem a capacidade de 20 litros! O assento está montado a 795 mm do solo e o peso do conjunto em ordem de marcha é de 160 kg.

Semelhanças e diferenças
Como já perceberam, estamos perante motos que estão no limiar da potência máxima do segmento (11 kw ou 15 cv), em que apenas apenas a Zontes está 0,5 cv atrás. Todos possuem sistemas de travagem com um disco em cada eixo e uma forquilha invertida dianteira, pelo que existem muitas semelhanças. Mas na prática o que sentimos? Em primeiro lugar, a Husqvarna e a Zontes são mais irreverentes em termos estéticos, sendo a SWM e a Yamaha de desenho mais clássico. Depois, a Svartpilen é claramente a condução mais “jovial”, com um assento duro e elevado e posição algo supermoto,carregando algum peso nos braços. As restantes possuem também guiadores largos, mas naZontes este está mais baixo, para uma posição estradista mais convencional.Em termos de equipamento, e por tudo o que dissemos atrás, existem duas motos que se destacam, curiosamente a mais barata e a mais cara! A minimalista Husqvarna apresenta pormenores deliciosos mas também se faz pagar bem por isso, enquanto a Zontes, mais equipada e robusta não desiludiu em nada na qualidade dos componentes e na forma como tudo funciona. Na Yamaha um condutor de elevada estatura irá sentir-se muito bem, pois oconjunto é realmente avantajado, e a sua instrumentação é muito completa, embora deleitura melhorável. Zontes e SWM têm porventura os sons mais atrativos de escape (e de admissão no caso da chinesa), e em termos de prestações, tal como esperávamos, as diferenças não são gigantes, bem pelo contrário. Simplesmente a Zontes parece ter um motor mais forte nos médios regimes (faltando depois aquele “meio cavalo” lá em cima),enquanto a Husqvarna precisa de fazer rotação para andar depressa, sendo os motores SWM e Yamaha bastante lineares. Em termos de velocidade máxima poucas diferenças também se notam, mas se o terreno ajudar todas poderão passar sem problemas a barreira dos 120 km/h. Quanto à economia, não conseguimos apurar o consumo médio na bomba
destas máquinas, apenas ficámos com a média (na instrumentação) da Yamaha, a rondar os 2,4 l/100 km, valor que não deverá ser muito diferente nos outros modelos.
Dinâmica
No final do dia, e após todos termos andado nas quatro máquinas, a seco e à chuva, concordámos em muitos aspetos: quando andamos com a Yamaha, esta parece uma moto muito maior que as restantes. Faz tudo relativamente bem e tem muito espaço para condutor e passageiro, mas não gostámos do tato duro do travão dianteiro, menos bom para quem tem mãos pequenas e obrigando a fazer mais força na manete. A Husqvarna é sempre a mais irreverente e jovial. É a menos confortável para condutor e passageiro mas é bastante divertida (e cara), e trava muito bem; simplesmente ficamos sempre com a sensação que falta motor para um conjunto tão bom. E é por isso que existe uma Svartpilen 401 na gama, que simplesmente necessita de carta de condução e custa mais 1.050 euros aproximadamente. Aos comandos da SWM também passámos bons momentos, mas sentimos claramente uma diferença no comportamento das suspensões Fastace: funcionamento ajustado no trem dianteiro mas excessivamente duro atrás, prejudicando o conforto e a dinâmica. O formato dos pousa-pés e descanso lateral também não é perfeito, e na instrumentação é pena não existir um indicador de mudança engrenada, até porque por vezes não temos a certeza se seguimos em quinta ou em sexta velocidade. Quanto ao passageiro, tem de levar a perna direita ligeiramente mais aberta por causa dos escapes subidos. Quanto à Zontes, para além de ser a máquina com mais equipamento e de ter o som mais emocionante, foi também com ela que mais nos divertimos! A posição de condução é confortável mas incita a uma condução agressiva, e apesar das suspensões serem aparentemente muito macias, as mesmas funcionam muito bem e permitem com condução rápida e segura, até porque os pneus CST são muito aderentes. Todos estes modelos são bem atrativos e existem naturalmente gostos para tudo (e ainda bem que assim é), mas de forma curiosa ou não,para todos os participantes deste comparativo houve um modelo que se destacou um pouco mais que os outros:a Zontes, que ainda por cima consegue ser bem mais barata que todas as outras motos. Pois é, os chineses vieram mesmo para ficar!
Husqvarna Svartpilen 125
O MELHOR
Estética irreverente
Qualidade dos componentes

Travagem dianteira
A MELHORAR
Preço.
Carácter “simples” do motor
Husqvarna Svartpilen 125 | |
MOTOR | monocilíndrico a 4T,refrigeração líquida |
Cilindrada | 125 cc |
Potência | 11 kW @n.d. |
Binário | n.d. |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | treliça em aço |
Depósito | 9,5 litros |
Suspensão dianteira | forquilha telescópica invertida de 43 mm, curso de 142 mm |
Suspensão traseira | mono amortecedor central, curso de 142 mm |
Travão dianteiro | disco de 320 mm, pinça radial de 4 êmbolos, ABS |
Travão traseiro | disco de 230 mm, pinça de 1 êmbolo, ABS |
Pneu dianteiro | 110/70R17 |
Pneu traseiro | 150/60R17distância entre eixos n.d. |
Distância entre eixos | n.d. |
Altura do assento | 835 mm |
Peso | 146 kg (s/ combustível) |
P.V.P. | 5.445 € |
SWM Gran Milano Outlaw 125
O MELHOR
Carácter próprio
Comportamento em bom piso

A MELHORAR
Suspensão traseira demasiado dura
Qualidade de alguns componentes
SWM Gran Milano Outlaw 125 | |
MOTOR | monocilíndrico a 4T,refrigeração líquida |
Cilindrada | 124,7 cc |
Potência | 11 kW @n.d. |
Binário | n.d. |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | tubular em aço |
Depósito | 16,5 litros |
Suspensão dianteira | forquilha telescópica invertida de 41 mm, curso n.d. |
Suspensão traseira | dois amortecedores hidráulicos, curso n.d. |
Travão dianteiro | disco de 300 mm, pinça de 2 êmbolos, ABS |
Travão traseiro | disco de 220 mm, pinça de 1 êmbolo, ABS |
Pneu dianteiro | 120/70-17 |
Pneu traseiro | 150/60-17 |
Distância entre eixos | n.d. |
Altura do assento | 720 mm |
Peso | 130 kg (a seco) |
P.V.P. | 4.150 € |
YAMAHA XSR 125
O MELHOR
Ergonomia para condutores mais altos
Estilo retro
Instrumentos com computador de bordo

A MELHORAR
Tato do travão dianteiro
Leitura da instrumentação
YAMAHA XSR 125 | |
MOTOR | monocilíndrico a 4T,refrigeração líquida |
Cilindrada | 125 cc |
Potência | 11 kW @10.000 rpm |
Binário | 11,5 Nm @ 8.000 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | deltabox em aço |
Depósito | 11 litros |
Suspensão dianteira | forquilha telescópica invertida de 37 mm, curso de 130 mm |
Suspensão traseira | mono amortecedor central, curso de 110 mm |
Travão dianteiro | disco de 267 mm, pinça de 2 êmbolos, ABS |
Travão traseiro | disco de 220 mm, pinça de 1 êmbolo, ABS |
Pneu dianteiro | 110/70-17 |
Pneu traseiro | 140/70-17 |
Distância entre eixos | 1.330 mm |
Altura do assento | 815 mm |
Peso | 140 kg |
P.V.P. | 4.695 € |
ZONTES 125 G1X
O MELHOR
Estética e acabamentos
Nível de equipamento
Qualidade e prazer de condução
Preço

A MELHORAR
Motor nos regimes mais elevados
ZONTES 125 G1X | |
MOTOR | monocilíndrico a 4T,refrigeração líquida |
Cilindrada | 125 cc |
Potência | 10,8 kW @9.000 rpm |
Binário | 13 Nm @ 7.000 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | tubular em aço |
Depósito | 20 litros |
Suspensão dianteira | forquilha telescópica invertida n.d., curso n.d. |
Suspensão traseira | mono amortecedor central, curso n.d. |
Travão dianteiro | disco n.d., ABS |
Travão traseiro | disco n.d., ABS |
Pneu dianteiro | 110/70R17 |
Pneu traseiro | 130/70R17 |
Distância entre eixos | 1.373 mm |
Altura do assento | 795 mm |
Peso | 160 kg |
P.V.P. | 3.646 € |
O LEITOR CONVIDADO

Leitor habitual da Motociclismo, João Grilo foi o nosso convidado neste trabalho. Condutor de uma Honda PCX no dia a dia, tem também uma Aprilia RS 660, com a qual participa em alguns track days. Para ele «a Zontes foi a minha favorita. Uma moto ágil e com alma, com uma boa resposta nos baixos e médios regimes. A moto tem muita pinta, o assento é muito confortável e o farol é lindíssimo. Na Yamaha gosto da forma como o motor alonga bastante, mas o tato do travão é claramente o pior. Gostei muito da posição de condução e é fácil de conduzir, mas o display é algo escuro e confuso. Na Husqvarna diverti-me mas achei as suspensões algo macias, enquanto o motor pareceu-me esgotar demasiado depressa. Quanto à SWM, gostei do estilo retro e do facto de trazer bons pneus de estrada,mas a suspensão traseira é claramente demasiado dura. E já agora, muito obrigado pela oportunidade de participar neste trabalho. Foi muito bom perceber como são feitos os trabalhos para a revista.» Nós é que agradecemos João!






















