A média cilindrada pode ser um “prato” apetecível para muitos motociclistas, desde os mais experientes até aos que pretendem começar a subir de cilindrada. Felizmente, o mercado das naked oferece bastantes propostas para todos os que desejam algo na cilindrada intermédia, tornando até a escolha difícil. Por isso, colocámos lado a lado uma britânica e uma japonesa,para vos ajudar a escolher qual, a que preenche melhor os vossos critérios.

TEXTO:JOÃO FRAGOSO/ FOTOS:RUI JORGE COLABORAÇÃO:FERNANDO NETO
Estão certamente já a perguntar. Qual a rebelde e qual a serena? Bem, explicamos tudo ao longo destas páginas. Olhando para ambas,diríamos que rebeldia não lhes falta,com a Triumph a destacar-se pelo logótipo da marca a branco no depósito,contrastando com todo o seu “corpo”preto. Por outro lado, não podemos dizer que a Honda passa despercebida num vermelho bem vivo, acompanhado de umas jantes cor bronze, um registo cromático que se mantém nas tampas do motor. A diferença evidente entre o tetracilíndrico e o tricilíndrico também se destacam, principalmente pelas curvas particulares nos coletores da CB650R. E à primeira vista, é isto que sentimos,juntamente com uma maior sensação de “agressividade” por parte da Triumph.
TRÊS CONTRA QUATRO


A Honda CB650R está equipada com um motor de quatro cilindros em linha,que debita 95 cv às 12.000 rpm e 63Nm de binário máximo às 8.500 rpm;sendo que a Triumph Trident 660 está munida de um motor de três cilindros com 81 cv às 10.250 rpm, contando com um binário máximo de 64 Nm às 6.250 rpm. Bem, por todos estes números percebemos rapidamente que ambas se devem comportar de forma bem diferente no que ao motor diz respeito.E é caso para dizer, os números não mentem. A CB650R parece sempre adormecida até às 6.000 rpm, quando começamos a sentir que há algo que quer despertar,precisando ainda de algum incentivo.Incentivo esse que no caso da Honda são mais 2.000 rpm para que os quatro cilindros acordem e mostrem todo o seu potencial. Efetivamente este motor precisa de rotação para causar emoção(foi pensada esta rima). Este bloco parece sempre um pouco dormente e pouco enérgico até chegar à faixa de rotação certa, exigindo sempre algumas passagens de caixa, em situações de ultrapassagem ou condução um pouco mais aplicada. Em ritmo de passeio a suavidade dos quatro cilindros não deixa de impressionar, mas não nos devemos esquecer que vamos precisar de reduzir duas ou três velocidades para que a CB650 R reaja da forma que esperamos. A Triumph Trident 660 , contrariamente, e de forma característica da marca inglesa,apresenta um motor de três cilindros que se revelou bastante suave nos baixos regimes, mas mais importante; sempre disponível em qualquer situação. A Trident 660 faz-nos sentir que debaixo de nós está um pequeno furacão, pronto a levar tudo à frente em qualquer faixa de rotação ou velocidade. O bloco é bastante mais enérgico do que o da CB650R, sem perder suavidade nem disponibilidade até ao red line.Prova disso foram os testes que efetuámos de recuperações, onde a Triumph foi consideravelmente mais rápida, em qualquer mudança, havendo um aproximar da Honda já em rotações muito elevadas, em situações onde habitualmente já teríamos passado de caixa na moto britânica. É importante referir que a Trident 660 tem também uma cremalheira bem maior do que a CB650R,potenciando ainda mais esta diferença através da transmissão final mais curta.
CONJUNTO


O motor é apenas uma parte de um conjunto que é composto por muito mais. Ainda que muito importante,deve ser acompanhado sempre por componentes de semelhante qualidade de forma a proporcionar uma boa experiência a quem conduz a moto. Começando pelas suspensões, a Triumph Trident 660 equipa uma forquilha invertida Showa SFF na dianteira, com 41 mm de espessura,em muito semelhantes às Showa SFF BPde 41 mm que equipam a Honda CB650R,ambas a possuírem separação dos sistemas de amortecedor e mola. Ainda assim,a Honda tem uma pequena vantagem neste departamento, com uma taragem mais dura e que permite por exemplo travagens mais apuradas. Placebo ou não, a dianteira da CB650R revelou-se muito competente na leitura do piso e no conforto que passa quem a conduz. A Triumph pareceu um pouco mais nervosa e irrequieta, ainda que não nos possamos queixar de más leituras durante a condução. Na traseira, a Honda conta com um monoamortecedor com ajuste de pré–carga, com aspeto um pouco mais robusto que o monoamortecedor que encontramos na Triumph, também ele possível de ajustar em pré-carga.A travagem, em ambas, na dianteira, é responsabilidade da Nissin que equipou estas motos com dois discos de 310 mm na frente, sendo que na CB650R contamos com pinças de 4 êmbolos (e montagemradial) e na Trident 660 de apenas 2 , com montagem convencional. Comparando a potência de travagem não podemos dizer que alguma delas leve vantagem. Podemos apenas comparar gosto pessoal, e aí a CB650R mostrou ter um tato um pouco mais linear, não sendo necessária tanta força para alcançar a potência suficiente para parar onde queremos. Claro, mais uma vez, depende de gosto pessoal e nenhuma das motos trava mal, bem pelo contrário. Para finalizar o capítulo da travagem, contamos na Honda com um único disco de 240 mm na traseira e um de 255 mm na Triumph, ambos competentes e bons complementos ao que encontramos na dianteira.
UM POUCO DE TECNOLOGIA NÃO MAGOA


A Trident parece estar sempre pronta a que o acelerador eletrónico seja utilizado em todo o seu potencial, até porque é assim que ele se sente confortável, mostrando algumas irregularidades em baixas velocidades, algo que deverá certamente ser alvo de melhorias por parte da marca britânica em próximas atualizações de software. A Honda, por sua vez, não possuindo qualquer modo de condução,vem equipada com o convencional acelerador por cabo, o que pode ser uma vantagem para quem não dá grande atenção à tecnologia e aos modos de condução,mas também uma desvantagem. A Triumph entrega dois modos –Road e Rain –selecionáveis através do painel TFT a cores,o que beneficia claramente condutores menos experientes ou que pretendam apenas acalmar um pouco o carácter mais espevitado deste tricilíndrico. A CB650R no departamento tecnológico fica um pouco aquém, com um painel LCD algo confuso à primeira vista e sem grandes possibilidades de personalização.
SE QUEREM EMOÇÃO…
Terão de optar pela Triumph Trident 660…Ou saber aproveitar muito bem o potencial do tetracilíndrico da Honda CB650Re as suas 12.000 rpm. A Trident 660 está sempre pronta para nos proporcionar uma boa dose de adrenalina assim que rodamos o punho direito, contrariamente à CB650R que parece sempre querer um ritmo mais calmo e tranquilo, até acordar e dizer presente! A Triumph tem também um comportamento mais irrequieto e dá sempre a sensação que vamos mais depressa do que realmente acontece, contrastando com a Honda que é bastante sólida no seu conjunto e revelou excelente sintonia entre o quadro e suspensões,mantendo este conjunto em linha com a potência disponibilizada pelo motor. A escolha de pneus das marcas também foi diferente com a Honda a optar por uns Dunlop Sportmax D214 e a Triumph a equipara sua moto com os Michelin Pilot Road 5,que apesar de não serem tão desportivos proporciona boas sensações mesmo numa condução mais aplicada, mas também fazem acender frequentemente uma luz no painel de instrumentos – o chama-do controlo de tração.
VELOCISTA VS MARATONISTA


A Honda sempre foi conhecida por conseguir proporcionar suavidade nos seus motores e nas suas motos em geral, e a CB650R não foge à regra. Mas talvez até em demasia. Quando olhamos para uma naked com quase 100 cv imaginamos uma moto capaz de nos criar fortes emoções,ser rápida em aceleração e andar sempre a querer levantar a dianteira quando rodamos o punho direito. Não é que aconteça tudo isto na Triumph Trident 660, mas claramente está muito mais perto e presente do que na CB650R. A moto britânica faz–nos sorrir sempre que aceleramos ao passo que a moto japonesa, no momento em que começamos a sorrir, pode haver um misto de emoção entre felicidade e medo para os mais inexperientes. Como referi no título, a Triumph apresenta-se mais rebelde, mas uma rebeldia controlada e sem assustar, mesmo em alta rotação. Já a Honda é bastante serena e dá a sensação de ser quase inabalável, mas ao acordar os 95cv parece querer entregá-los todos de forma imediata e abrupta a partir das 8.000 rpm. Tenho na minha cabeça a imagem de que a Trident 660 é uma atleta de sprint, sempre pronta a dar o máximo e a CB650R uma maratonista que tem de inspirar bem fundo para conseguir extrair todo o seu potencial já perto da linha de meta. No fim de contas, não significa que um velocista seja melhor que um maratonista, depende apenas das ambições de cada um.
ETERNO DILEMA
Vamos então à questão primordial e pelo motivo que leram tudo isto até aqui.Qual escolher? Bem, não há uma resposta certa. Sim, sabemos que agora devem estar a pensar o seguinte: ‘ É sempre a mesma resposta…’ Não é uma questão de não querer ferir susceptibilidades, é uma questão de respeito por cada uma destas motos e pelas suas características. É difícil hoje em dia encontrar uma moto desta gama que não seja boa, e aqui temos dois bons exemplos da gama naked de cilindrada intermédia. Cada uma com as suas valências e defeitos, proporcionando diferentes sensações e certamente com targets também distintos. Diria que a Triumph é mais emocional e puxa de forma mais imediata pelas sensações e prazer de condução, por tudo o que foi escrito, contrariamente à Honda que é mais sóbria e provavelmente só será explorada na sua totalidade por aqueles que não se deixam assustar pelo conta rotações a passar limites que muitas vezes apenas utilizamos em circuito.
HONDACB650R | |
MOTOR | tetracilíndrico, refrigeração líquida |
CILINDRADA | 649 cc |
POTÊNCIA | 95 cv (70 kW) @12.000 rpm |
BINÁRIO | 63 Nm @9.500 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | em aço, tipo diamante |
DEPÓSITO | 15,4 litros |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha telescópicainvertida de 41 mm, curso n.d. |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor,ajustável na pré-carga |
TRAVÃO DIANTEIRO | dois discos de 310 mm,pinças radiais de 4 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 240 mm |
PNEU DIANTEIRO | 120/70 ZR17 |
PNEU TRASEIRO | 180/55 ZR17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1.450 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 810 mm |
PESO | 202 kg |
P.V.P. | 8.550€ |
TRIUMPH TRIDENT 660 | |
MOTOR | tricilíndrico, refrigeração líquida |
CILINDRADA | 660 cc |
POTÊNCIA | 81 cv (60 kW) @10.250 rpm |
BINÁRIO | 64 Nm @6.250 rpm |
CAIXA | 6 velocidades |
QUADRO | tubular em aço |
DEPÓSITO | 14 litros |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha telescópicainvertida de 41 mm, curso n.d. |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor,ajustável na pré-carga |
TRAVÃO DIANTEIRO | dois discos de 310 mm,pinças de 2 êmbolos |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 255 mm |
PNEU DIANTEIRO | 120/70R17 |
PNEU TRASEIRO | 180/55R17 |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1.401 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 805 mm |
PESO | 189 kg |
P.V.P. | 8.295€ |











